sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Lembranças







Quando eu tinha 18 anos, lá pelo final dos anos 80, ganhei de um amigo uma fita K7 com músicas do Caetano Veloso. Era tipo um mix tape das melhores dele. Esse meu amigo chamava Chiquinho, era uns anos mais velho do que eu, nunca soube seu nome completo ou sobrenome, mas estávamos sempre juntos com todos de Ipanema, nas festas que fazíamos. Hoje, ouvindo Caetano, lembrei dele e de seus cachos castanhos. Nunca mais vi o Chiquinho, nem sei o que aconteceu com ele, mas essa fita K7, embora não saiba onde foi parar, nunca mais esqueci. 

sábado, 6 de julho de 2019

O ano dos meus 50 anos








Chegou 2019. O ano em que se passava Blade Runer, filme que assisti sem piscar lá por 1983 e que me encantou com sua história e suas músicas e um Deckard como um herói nu e sujo em uma Los Angeles nua e suja. Me encanta até hoje. E 2019 é o ano que completo 50 anos e isso é muito estranho porque não me vejo como uma pessoa velha, mas quando penso “50 anos” o peso da imagem que me vem à mente é assustador.

O ano em que nasci foi o ano em que o homem pisou na lua. Foi o ano de Woodstock. O ano em que Medici toma posse como presidente e se encarrega das trevas que viriam a seguir sobre essa terra. No cinema estreia Easy Rider nos EUA e Macunaíma no Brasil. Morre Marighella.

Listando assim esses fatos, parecem tão distantes.

Quando mais jovem, pensava que aos 50 anos as pessoas eram velhas, pareciam velhas, tinham muitas rugas no rosto, por vezes encurvadas, cansadas. Não me vejo assim, não me sinto assim. Penso se tenho uma imagem distorcida de mim mesmo e, logo em seguida, dou de ombros. Que importa? Tenho coisas pra fazer, tenho tempo, tenho o que preciso, tenho risadas pra dar, amigos para ver, filhas para abraçar, uma casa pra cuidar, lugares para conhecer, músicas para ouvir, filmes para ver, livros para ler, séries para assistir, gente para amar, muita coisa para falar. Pouco ou quase nada para lamentar.

E esse é o ano dos meus 50 anos. Não vou me desgostar como Deckard, nem tenho motivos pra isso. Pra manter o hábito, vou seguir dando muita risada e brindando por aí, com alguma amiga em um show, em casa na minha companhia ou rodeada de velhas amigas e um eventual cigarro entre os dedos.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Uma filha na faculdade




Desde cedo entendi que contigo as coisas não seriam tradicionais. Tu exigia muito espaço no mundo, era muita explosão, muita emoção pra que tudo fosse como se esperava. Lidar contigo sempre foi lidar com emoções fortes, não havia lugar pra mesmice, pra tranquilidade, pra acomodação. Ao nascer já nos colocou à prova, cresceu sendo sempre essa impetuosidade, e amadureceu aos borbotões. Tivemos que nos adaptar a ti. Fomos obrigados a ver o mundo com outros olhos, a aceitar outros caminhos, a conviver com o barulho, a viver com essa explosão de vida, com essa exigência de estar no mundo pra fazer a diferença. Hoje, meu peito explodiu de orgulho. Hoje eu soube como é não caber dentro de si mesmo, não ter como expressar tamanho amor e orgulho. Tua caminhada é brilhante, teus passos são barulhentos e marcam forte o chão de quem te vê, como se a gritar que esta vida é tua e que dela tu fará uma epopéia. Minha filha, te amo pra fora.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Cadê o futuro?

É uma busca incessante pelo depois, por aquilo que podemos ser e que podemos fazer. Uma luta diária exaustiva e estressante por alguma coisa que só pode acontecer amanhã, nunca hoje. E quando chega, não parece ser suficiente, é preciso mais, muito mais. E seguimos buscando, nos alquebrando, nos colocando no limite, por algo que não vem. E nunca vai chegar. O futuro nunca chega, sempre será depois. E passamos o hoje sem aproveitar, sem sentir, sem viver, porque hoje não é amanhã. E morremos sem termos vivido, somente esperado. Que coisa mais sem sentido.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Leminski


Que flecha é aquela no calcanhar daquilo? Pela pena, é persa, pela precisão do tiro, um mestre.
Ora, os mestres persas são sempre velhos. E mestre, persa e velho só pode ser Artaxerxes ou um irmão, ou um amigo, ou discípulo, ou então simplesmente alguém que passava e atirou por despautério num momento gaudério de distração.

Catatau, p. 33